terça-feira, 24 de março de 2009

Praticamente inofensiva



Não era insanamente empolgante de se ver. Para falar a verdade, era até meio sem graça. Era menor e um pouco mais grosso do que um cartão de crédito e semitransparente. Se você o colocasse contra a luz, podia ver várias informações e imagens holograficamente criptografadas enterradas alguns pseudomilímetros de profundidade sob a superfície.

Era um Ident-I-Fácil, uma coisa muito tola e inadequada para carregar na carteira, ainda que fosse perfeitamente compreensível que a carregasse. Existiam tantas situações nas quais solicitavam que a pessoa fornecesse uma prova absoluta de sua identidade que a vida poderia facilmente se tornar bastante cansativa só por causa disso - sem falar nos problemas existenciais mais profundos de tentar funcionar como uma consciência coerente em um universo físico epistemologicamente ambíguo. Pensem nos caixas eletrônicos, por exemplo. Filas de pessoas esperando para terem suas digitais analisadas, retinas escaneadas, pedaços da pele removidos para serem submetidos a uma análise genética imediata (ou quase imediata - uns bons seis ou sete segundos, na entediante verdade) e depois ainda ter que responder a perguntas capciosas sobre membros da família dos quais mal se lembram e sobre as cores prediletas de toalha de mesa que haviam cadastrado... tudo isso só para sacar um dinheirinho para o final de semana. Se você estiver tentando um empréstimo para um carro a jato, para assinar um tratado de mísseis ou pagar a conta do restaurante, sua paciência seria testada até os limites.

Por isso o Ident-I-Fácil. Ele continha todas as informações sobre a pessoa, o seu corpo e a sua vida em um único cartão genérico, aceito em qualquer máquina, para ser levado na carteira, e representava, portanto, o maior triunfo tecnológico sobre si mesmo e sobre o bom senso.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Praticamente.....



O que mais desejava no mundo era um emprego que pagasse dez vezes o seu salário anual.
Mais do que qualquer outra coisa no mundo.
No mundo inteiro.
O que ela desejava mais do que qualquer outra coisa não existia mais.